O empoderamento do corpo já foi uma busca de diversas culturas em diferentes épocas da humanidade, dando origem a movimentos filosóficos, religiosos e, nos tempos modernos, sociais. Se hoje o termo nos remete a movimentos coletivos, é relevante pontuar que nem sempre foi assim. Para algumas tradições budistas, hindus, gnósticas, etc, o empoderamento era algo inerentemente solitário. A sociologia e a filosofia ocidental, imersas na realidade dos últimos séculos, expuseram alguns dos desafios de se viver sob uma dinâmica social onde o Estado é quem manda no corpo do cidadão, onde a cultura lhe impõe padrões, etc. No consultório de quiropraxia essa dinâmica é bastante evidente, e eu gostaria de trazer uma pequena reflexão a respeito de um aspecto do empoderamento do corpo. A medicina foi amplamente estatizada, nações sistematizaram suas “medicinas do trabalho”, e após a revolução industrial a nossa visão de saúde viria a se transformar. Foi nesse cenário que a quiropraxia nasceu e assim foi marcada por tais transformações. Se quisermos usufruir melhor de todos os benefícios que a profissão pode nos proporcionar, será preciso identificar as influências externas que marcam o nosso comportamento. Faz parte da lógicas pós revolução industrial a criação de uma estrutura de saúde que facilite a recuperação de trabalhadores incapacitados, além da manutenção da mão de obra nas linhas de produção. Daí a origem de tantas abordagens como os exercícios laborais, ergonomia, etc. Bem ou mal, a quiropraxia faz parte dessa dinâmica, e diariamente atendo pessoas cujo objetivo envolve em algum nível esta lógica. O que tenho tentado mostrar para as pessoas é, se estamos dispostos a promover diversas mudanças e cuidados na vida para facilitar a volta ao trabalho, para que os corpos aguentem a demanda laboral, porque não incluir nessa dedicação as demais áreas da vida? Perdi a conta de quantas vezes ouvi “vou ter que parar de dançar”, ou “é, acho que não posso mais jogar futebol”, etc, mas nunca ouvi “vou ter que parar de usar o computador por 12 horas diárias”. Percebem a desproporção dessa visão? As pessoas têm utilizado a quiropraxia em uma lógica trabalhista, quando na verdade a proposta do ajuste é de empoderar o corpo, para que o corpo seja um instrumento da liberdade. Se continuarmos utilizando os ajustes como simples resolução da dor com foco na volta ou manutenção do trabalho, estaremos desperdiçando a oportunidade de uma vida muito mais interessante, prazerosa e divertida. Trabalhar é importante, é uma questão de sobrevivência, mas você pode escolher empoderar-se também para viver além do trabalho.
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